… tentou no último instante se manter consciente. Queria passar por aquela experiência dolorosa com a mesma curiosidade com a qual viveu. De olhos abertos.
Lembrou de como sua mãe dizia que ela tinha chorado no nascimento, e agora aquilo. Início e fim.
Sabia que não daria pra fugir da explosão prestes a acontecer atrás dela, seria de imediato consumida pelas expansão do combustível e das chamas, e ainda assim, correu, sentiu seu corpo se elevar no ar, o fogo alaranjado a consumiu, era tão quente que não dava pra entender, mas não dava pra respirar, era tudo laranja e quente até que tudo foi ficando muito claro, muito… um final fade to white…
Ela já tinha “morrido” antes, o ar lhe tinha faltado, a vista escurecido, o corpo desfalecido lentamente, e cedendo à gravidade foi ao chão. Fade to black. Mas a ressuscitaram. Aquilo era diferente, era um absurdo, um desejo, um clímax e uma espécie de obra de arte da natureza.
Estrondoso e silencioso.
De fora viam como terror total, aquela bola de fogo expandindo tão inacreditavelmente, consumindo tudo e aqueles que não conseguiram escapar. “Escapar?”
Morrer é the great scape… a música que lhe vinha à cabeça naquele momento dizia “I wanna be like Harry Houdini, and be the one to make the great scape!”
A consciência foi se libertando do corpo. A vida tinha sido ruim, triste, pesada, dolorosa, injusta e naquele instante, ela começou a rir demais, como se aquilo tudo tivesse sido divertidíssimo, sabia que sua unidade avataral já não existia, que tudo que havia vivido era apenas um emaranhado de informações, o que ela era estava ali, consciente, desconectada, incorpórea e de alguma maneira feliz.
Seu nome era apenas algo que dizia sem palavras que ela era, ela existia, ela estava… sem que houvesse palavra para poder descrever exatamente aquilo.
Ela já tinha passado por experiências oníricas, por ETCRPRIM (Experiência de Transição Consciente entre Realidades Paralelas com Retenção Integral de Memória), sem fragmentação da identidade com a criação de um checksum mental que lhe permitia conferir se a mente se mantinha intacta. Sem ancoragem, sem contenção mnemônica, sem linguagem defectiva.
Ela se viu som e poesia não semântica. Francis Crick e Michael McClure!!! Explodiu dentro dela!
Fiat lux!
E ela quis viver de novo, como uma criança que quer ir de novo e de novo no escorregador… só pra poder rir daquele jeito no final!
E no primeiro instante, tentou se manter consciente.